Parashat Vaetchanan

Por Luciano Ariel Gomes

Tudo bem! Eu confesso! Devarim (Deuteronômio) é meu livro favorito da Torá! O contexto é Moshé repassando a história recente dos filhos de Israel de forma que ninguém esquecesse do que havia vivido, para que ninguém deixasse passar a oportunidade de aprender com a própria história, com os próprios erros.

Nossa parashá começa com Moshé contando ao povo sobre como ele suplicou ao Eterno que lhe permitisse entrar na Terra de Israel, não sendo atendido. Moshé deixa claro que foi por causa dos Filhos de Israel que ele não poderia entrar na Terra prometida aos pais. Sabemos que Moshé perdeu a paciência no episódio acontecido no Monte Horeb, quando ele feriu a rocha, em vez de falar à mesma como fora ordenado pelo Senhor dos Mundos, para que dali saísse a água que o povo precisava. Daí, Moshé passa a relatar fatos vividos pelos israelitas e a lembrá-los do Ensino, das Leis e das Ordenanças que receberam do Eterno e que compunham o que chamou de Torá, Instrução.

Uma leitura cuidadosa do texto salientará seus temas principais, a saber a relação que o Povo de Israel deveria ter com seu Deus após sua posse da terra e a inequívoca proibição da idolatria. Mas, quais lições podemos extrair diretamente do texto? Afinal, Moshe fala de forma direta com os seus compatriotas, sem rodeios, sem meias palavras. Alguns dos versos encontrados nesta parashá poderão trazer luz aos temas abordados de forma que identifiquemos o que a Torá nos ensina sobre essas questões.

Verso 1: “Pois que outra nação há que tem um deus (sic) tão próximo como é HaShem nosso Deus sempre que chamamos por Ele?” (4:7)

Essa relação estreita nos remete ao privilégio que teve Abraham, nosso patriarca, de poder conversar com o Eterno e negociar com Ele, interceder por outros e mostrar que O conhecia a ponto de compreender o conceito da justiça divina.

Verso 2: “O Eterno falou com vocês de dentro do fogo; vocês ouviram o som de palavras, mas não vislumbraram forma alguma – nada além de uma voz.” (4:12)

A rejeição de qualquer conceito que se assemelhasse à idolatria será reforçada por Moshé ao longo desta Parashá. Era necessário inculcar na consciência do povo que a dimensão na qual eles estavam inseridos não tinha igual.

Verso 3: “Ele declarou a vocês o pacto que Ele ordenou que vocês observassem, as Dez Palavras (Asseret HaDevarim); e Ele as gravou sobre duas tábuas de pedra.” (4:13)

O povo de Israel estava destinado a ser conhecido como o Povo do Livro. Uma ideia totalmente nova, em que o serviço à Divindade seria prioritariamente através do comportamento. A ética da Torá seria a marca do povo judeu. O próprio texto alude a isso quando menciona o que os outros povos viriam a dizer de Israel caso cumprisse as Mitzvot e mantivesse o pacto vivo.

O impacto da Torá nas leis da nações do Ocidente é inegável. Também é óbvia a busca dos mais diversos profissionais de persuasão judaica que se destacaram ao longo da história e que ainda o fazem, principalmente após o retorno no povo judeu à Terra de Israel como um estado organizado e democrático, dando um testemunho claro de que a relevância da Torá e seus valores os influenciaram produzindo desejo coletivo de Tikun Olam (Correção do Mundo). E isso independente de serem observantes ou não. Podemos citar, por exemplo, o Rabino Aryeh Kaplan Z”L, que além de nos ter deixado obras maravilhosas, como explicações haláchicas e ensinamentos éticos da Torá e da Cabalá, foi um grande físico, respeitado até hoje no meio científico. E o grande escritor israelense Amós Oz Z”L, ateu declarado, mas que não deixava de beber da fonte da Torá.

Verso 4: “Para seu próprio bem, portanto, tomem muito cuidado […] para que não ajam de forma pecaminosa fazendo para si mesmos uma imagem esculpida em qualquer semelhança que seja: a forma de um homem ou de uma mulher, a forma de alguma fera sobre a terra, a forma de qualquer pássaro alado que voa no céu, a forma de qualquer coisa que rasteja sobre o solo, a forma de qualquer peixe que está nas águas debaixo da terra.” (4:15-18)

Passamos dessa fase? Deixamos para trás qualquer resquício idólatra? Será muito bom se pudermos dizer que sim. Afinal, a idolatria é a redução da raça humana a um estado primitivo, ela o curva diante da pedra, da madeira, do gesso. Será que evoluímos? Claro que sim! O problema é que os ídolos também evoluíram, por assim dizer. Os ídolos de hoje podem simplesmente não ser de pedra, madeira ou gesso, mas tudo o que pode nos afastar dos ensinamentos da Torá. Ou seja, dos valores que herdamos de nossa tradição. O Pirkê Avot nos ensina: “Grande é a Torá porque ela dá vida a quem a pratica, neste mundo e no mundo vindouro[…] (6:7) . A Torá sempre esteve relacionada à vida!

Além das Dez Palavras, encontra-se nesta Parashá o antídoto para o perigo de regredirmos ao primitivo. É um verso que dizemos pelo menos duas vezes por dia e que é central em nossos serviços religiosos juntamente com a Amidá. Refiro-me simplesmente ao Shemá Yisrael. Quando Yaakov (Jacob) temeu que seus filhos se tornassem como Ismael ou como Esaú, que nasceram de Abraham e Yitzchak, respectivamente, mas que não permaneceram na Torá, “seus filhos lhe responderam: ‘Ouve, ó Yisrael (referindo-se a Yaakov por seu outro nome) o Eterno Nosso Deus, o Eterno é Um. Assim como há apenas Um em teu coração, há apenas Um em nosso coração!’ Naquele momento Jacob respondeu: ‘Seja bendito o nome do reino glorioso de Deus para sempre e sempre!“’ (Talmud Babli, Pessachim 56a)

SHEMÁ ISRAEL, HASHEM ELOHEINU, HASHEM ECHAD (Devarim 6:4)

Baruch Shem Kevod Malchutô Leolam Vaed

Shabat shalom!

Textos extraídos do site Sefaria.org e traduzidos de forma livre.

Imagem de Free-Photos por Pixabay

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